Mateus 5.21-32: Sermão do Monte - A verdadeira justiça I

21 ¶ Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; mas qualquer que matar será réu de juízo.

22 Eu, porém, vos digo que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão, será réu de juízo; e qualquer que disser a seu irmão: Raca, será réu do sinédrio; e qualquer que lhe disser: Louco, será réu do fogo do inferno.

23 Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti,

24 Deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão e, depois, vem e apresenta a tua oferta.

25 Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial, e te encerrem na prisão.

26 Em verdade te digo que de maneira nenhuma sairás dali enquanto não pagares o último ceitil.

27 ¶ Ouvistes que foi dito aos antigos: Não cometerás adultério.

28 Eu, porém, vos digo, que qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela.

29 Portanto, se o teu olho direito te escandalizar, arranca-o e atira-o para longe de ti; pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que seja todo o teu corpo lançado no inferno.

30 E, se a tua mão direita te escandalizar, corta-a e atira-a para longe de ti, porque te é melhor que um dos teus membros se perca do que seja todo o teu corpo lançado no inferno.

31 Também foi dito: Qualquer que deixar sua mulher, dê-lhe carta de divórcio.

32 Eu, porém, vos digo que qualquer que repudiar sua mulher, a não ser por causa de fornicação, faz que ela cometa adultério, e qualquer que casar com a repudiada comete adultério.

A verdadeira justiça I -> No Brasil, 120 pessoas morrem por dia vítimas de brigas de trânsito. Uma pesquisa diz que 8 a cada 10 pessoas já foram infiéis no casamento. O número de divórcios no Brasil bateu recorde e chegou a 420 mil casos em 2022 (IBGE) – 1.150 divórcios por dia. Para Jesus, a raiz de todos esses problemas esta no coração.

1. (v.21,22) “qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão, será réu de juízo” a) Não matarás é o sexto mandamento (Êx 20.13; Dt 5.17); b) Qual o caminho de um homicídio? Circunstância->Tribunal do coração->Julga como culpado->Raiva->Sentença (punição)->Homicídio; c) “Jesus não o anulou. Antes, Ele lhe deu uma interpretação mais elevada: Se você está irado com seu irmão, você tem o homicídio em seu coração” (Beacon, p.59); d) Caim – o primeiro homicídio: “Mas para Caim e para a sua oferta não atentou. E irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe o semblante” (Gn 4.5) - “o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar” (Gn 4.7b); e) Entendimento: 1) Raiva é o sinal de alerta; 2) Abel não tinha má intenção contra Caim; 3) O orgulho e o julgamento precipitado são a raiz do homicídio; 4) Decisão: Perdão ou Homicídio.

2. (v.21,22) “qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão, será réu de juízo” a) 1º) nível - Encolerizar (orgizó): Sentir raiva permanente. “Irai-vos, e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira” (Ef 4.26). Deus se ira: “Porque a sua ira dura só um momento” (Sl 30.5). Deixar Deus julgar: “Porque a ira do homem não opera a justiça de Deus” (Tg 1.20); b) 2º) nível - Raca (rhaka): vazio, cabeça vazia, talvez sua raiz seja “cuspir”, culturalmente um convite à contenda; c) 3º) nível - Louco (móros): Tolo, idiota, imbecil. “E cinco delas eram prudentes, e cinco loucas” (Mt 25.2); d) Jesus iguala a raiva e palavras de ódio ao homicídio, tendo pesos equivalentes no julgamento de Deus; e) Jesus está ensinando sobre a progressão de danos causados pela raiva não tratada. Começa com uma emoção, depois uma intimação, até que estamos em um tribunal, prestes a sermos presos. A prisão é um símbolo bíblico de mágoa e ressentimento.

3. (v.23-26) “vai reconciliar-te primeiro com teu irmão e, depois, vem e apresenta a tua oferta” a) Jesus aplica o seu ensino em duas áreas: na adoração e no processo legal; b) Primeiro deve haver paz entre os irmãos, para depois a adoração ser aceita por Deus - “O que desvia os seus ouvidos de ouvir a lei, até a sua oração será abominável” (Pv 28.9); c) Na segunda aplicação, Jesus ensina que é muito mais sábio resolver nossas demandas fora do tribunal, com acordo entre as partes; d) Se combinarmos esse ensino com o capítulo 18, temos as orientações claras de como resolver conflitos: pessoal, rápido, silencioso, com acordo e com perdão; e) Paulo exortou a Igreja de Corinto por terem demandas entre si e processarem uns aos outros em tribunais. O cristão deveria preferir sofrer o dano a ir a um tribunal - “Na verdade é já realmente uma falta entre vós, terdes demandas uns contra os outros. Por que não sofreis antes a injustiça? Por que não sofreis antes o dano?” (1Co 6.1-9); f) Jesus ensina seus seguidores a terem paz com todos para ter paz com Deus. O perdão tem benefícios na área espiritual, mental e até física; g) Portanto, Jesus não anula o mandamento “não matarás”, mas o eleva para o homicídio do coração, no campo das intenções, das vontades, das emoções e das palavras.

4. (v.27-30) “qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela” a) Não adulterarás é o sétimo mandamento (Êx 20.14; Dt 5.18). Jesus também não anulou esse mandamento, mas deu uma interpretação mais elevada; b) Se olharmos para alguém com a intenção de cobiçar, temos um adultério no coração; c) Nesse capítulo 5, 93% dos ensinos de Jesus possuem algum tipo de figura de linguagem; d) Nesse trecho, Jesus faz uso da hipérbole – “arranque os olhos” e “corte as mãos”. É óbvio que isso não deve ser lido literalmente; e) “O olhar que Jesus menciona não é apenas casual e de relance; antes é um olhar fixo e demorado, com propósitos lascivos” (Wierbe); f) Quando o assunto é luxúria, você deve ser radical e cortar os laços que são armadilhas tentadoras; g) Portanto, Jesus não anula o mandamento “não adulterarás”, mas o eleva para o adultério do coração através de pensamentos e do olhar.

5. (v.31-32) “Divórcio” – Vamos combinar informações de Mt 19.1-10 - a) Havia uma controvérsia entre duas escolas do primeiro século a.C. chamadas Hillel e Shammai, sobre a interpretação de Dt 24.1: “Quando um homem tomar uma mulher e se casar com ela, então será que, se não achar graça em seus olhos, por nela encontrar coisa indecente, far-lhe-á uma carta de repúdio, e lha dará na sua mão, e a despedirá da sua casa.”; b) Shammai entendia que “coisa indecente” era prostituição, já Hillel entendia que o marido podia se divorciar da sua mulher por qualquer motivo, até mesmo se queimasse o alimento ao cozinha-lo (Beacon, p.135); c) Jesus, usando Gn 2.24, afirma que o casamento deve ser uma união permanente – “uma só carne”; d) O casamento é monogâmico e heterossexual (19.5; Gn 2.24; 1Co 7.2; 1Tm 3.2; Dt 17.17; Êx 20.17; 1Rs 11.4); e) Significado de “porneia”: relações sexuais ilícitas (ARA), imoralidade sexual (NVI) e adultério (NTLH). Primários: Adultério, fornicação, homossexualismo e bestialidade. Secundários: Masturbação, pornografia e olhares. O bom senso diz, pelo peso dos danos, que nestes casos não há permissão para o divórcio; f) Jesus corrige os fariseus, afirmando que Moisés “permitiu” o divórcio, não “mandou”; g) O divórcio reflete a dureza do coração, manifestando a resistência em obedecer a Deus e a falta de amor e perdão (Mt 19.8).

Aplicação: a) Tudo acontece primeiro no coração. Crie o habito de examinar seus pensamentos e palavras; b) A maioria dos episódios de raiva são julgamentos precipitados. Não tente adivinhar a intenção que está no coração das pessoas. Dê a elas o benefício da dúvida. Todos são inocentes até que se prove o contrário - “Pai perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem”; c) A sua vida é a primeira adoração. Resolva todos os conflitos antes de orar, louvar, cultuar ou dizimar; d) Não processe ninguém, a não ser que o processo evite causar danos a outras pessoas. Normalmente o processo é motivado por orgulho e avareza; e) Corte laços que são tentações para você, por exemplo: locais, amigos, sites ou situações (sozinho); f) Solteiros, o casamento é para sempre. Escolhe alguém que também sirva a Jesus Cristo; g) Casados, a solução para os principais problemas do casamento está na Palavra e na oração, por exemplo: Sexo (1Co 7.5; 1Pe 3.7; Pv 5.1-23; Cantares 1-8); Conflito/perdão (Mt 5.21-26; 5.38-48; 7.1-12; 18.15-35; ); Acordo (Mt 18.18-20; Ec 4.12; Am 3.3); Filhos (Ef 6.1-4; Pv 22.6; Dt 6.6,7; Sl 127); h) Todos os dias, decida amar seu conjugue. Busque ajuda de aconselhamento pastoral da sua Igreja ou cursos de casais; i) “A mágoa te coloca numa prisão atormentadora, a chave está no seu bolso, perdoe” - “Quem decide não perdoar, está destruindo a mesma ponte sobre a qual precisa andar” (Wiersbe).