Mateus 5.33-48: Sermão do Monte - A verdadeira justiça II

33 Outrossim, ouvistes que foi dito aos antigos: Não perjurarás, mas cumprirás os teus juramentos ao Senhor.

34 Eu, porém, vos digo que de maneira nenhuma jureis; nem pelo céu, porque é o trono de Deus;

35 Nem pela terra, porque é o escabelo de seus pés; nem por Jerusalém, porque é a cidade do grande Rei;

36 Nem jurarás pela tua cabeça, porque não podes tornar um cabelo branco ou preto.

37 Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; Não, não; porque o que passa disto é de procedência maligna.

38 Ouvistes que foi dito: Olho por olho, e dente por dente.

39 Eu, porém, vos digo que não resistais ao mau; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra;

40 E, ao que quiser pleitear contigo, e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa;

41 E, se qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas.

42 Dá a quem te pedir, e não te desvies daquele que quiser que lhe emprestes.

43 Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo.

44 Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus;

45 Porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos.

46 Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo?

47 E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim?

48 Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus.

No Brasil, 120 pessoas morrem por dia vítimas de brigas de trânsito. Dois motoristas batem seus carros em um acidente de trânsito, um chamado José, que é cristão, e o outro chamado Antônio, que não tem religião. O conserto do veículo de Antônio ficou em R$ 6.000, e o conserto do José ficou em R$ 4.000. Como o culpado pelo acidente foi Antônio, José solicita o ressarcimento do seu próprio conserto, porém Antônio se recusa a pagar. O que Jesus faria?

1. (v.33-37) “Sim, sim; Não, não; porque o que passa disto é de procedência maligna”: a) Não perjurarás significa não jurar falsamente (Lv 19.12; Nm 30.2; Dt 23.21); b) Jesus não anulou esse mandamento, mas deu uma interpretação mais elevada. Devemos sempre falar a verdade, independente de estar sob juramento ou não; c) No AT os juramentos deviam ser feitos em nome de Deus - “os itens acima eram substituídos como uma forma de subterfúgio, para não se dizer a verdade” (Beacon, p.60); d) Jesus ensinou que “a boca fala do que o coração está cheio” (Mt 12.34b). A justiça superior está na transformação do coração, pois assim a boca passará a falar boas palavras; e) A expressão “Sim, sim; Não, não” quer dizer “seja o seu sim, sim e seja o seu não, não”. A boca deve expressar o coração, senão seremos hipócritas, mentirosos e diabólicos; f) Portanto, Jesus não anulou o mandamento sobre jurar falsamente, mas elevou a exigência. Devemos sempre falar a verdade de coração, pois Deus está sempre presente quando falamos.

2. Pecados de palavras: Jesus também ensinou que “de toda a palavra ociosa que os homens disserem hão de dar conta no dia do juízo” (Mt 12.36). Segue textos de pecados de palavra (NTLH):

1. Mentira: (reputação x caráter)

Jo 8.44b: Quando o Diabo mente, está apenas fazendo o que é o seu costume, pois é mentiroso e é o pai de todas as mentiras.

2. Difamação: fofoca, falar mal, falso testemunho, julgamento precipitado

Êx 23.1: Não espalhe notícias falsas e não minta no tribunal para ajudar alguém

Pv 6.16-19: Existem sete coisas que o Senhor Deus detesta e que não pode tolerar: a língua mentirosa, a testemunha falsa que diz mentiras, e a pessoa que provoca brigas entre amigos.

Pv 11.13: O mexeriqueiro espalha segredos, mas a pessoa séria é discreta.

Tg 4.11-12: Meus irmãos, não falem mal uns dos outros. Quem fala mal do seu irmão em Cristo ou o julga está falando mal da lei e julgando-a. Pois, se você julga a lei, então já não é uma pessoa que obedece à lei, mas é alguém que a julga. Deus é o único que faz as leis e o único juiz. Só ele pode salvar ou destruir. Quem você pensa que é, para julgar os outros?

Jo 7.24: Parem de julgar pelas aparências e julguem com justiça.

3. Descontentamento: murmuração, reclamação e gritarias

Fp 2.14: Façam tudo sem queixas nem discussões.

Nm 14.27: Eu tenho ouvido as reclamações dos israelitas. Até quando vou aguentar esse povo mau, que vive reclamando contra mim?

Ef 4.31: Abandonem toda amargura, todo ódio e toda raiva. Nada de gritarias, insultos e maldades!

4. Opressão: assédio moral e bullying

Ef 6.9: Donos de escravos, tratem os seus escravos também com respeito e parem de ameaçá-los com castigos. Lembrem que vocês e os seus escravos pertencem ao mesmo Senhor, que está no céu, o qual trata a todos igualmente.

Pv 26.18-19: Quem engana os outros e diz que é brincadeira é como um louco brincando com uma arma mortal.

Pv 10.23: Para o malvado, fazer o mal é divertimento, mas a pessoa sensata encontra prazer na sabedoria.

5. Lascívia: Palavrões, piadas e comentários indecentes

Ef 5.3,4: Vocês fazem parte do povo de Deus; portanto, qualquer tipo de imoralidade sexual, indecência ou cobiça não pode ser nem mesmo assunto de conversa entre vocês. Não usem palavras indecentes, nem digam coisas tolas ou sujas, pois isso não convém a vocês. Pelo contrário, digam palavras de gratidão a Deus.

Ef 4.29: Não digam palavras que fazem mal aos outros, mas usem apenas palavras boas, que ajudam os outros a crescer na fé e a conseguir o que necessitam, para que as coisas que vocês dizem façam bem aos que ouvem.

6. Orgulho: Exibido ou bajulação

Pv 27.2: Ninguém elogie a si mesmo; se houver elogios, que venham dos outros.

Sl 12.2,3: Todos dizem mentiras uns aos outros; um engana o outro com bajulações. Ó Senhor, faze com que esses bajuladores se calem! Fecha a boca dessa gente convencida.

Pv 29.5 (ARA): O homem que lisonjeia a seu próximo, arma-lhe uma rede aos passos.

Pv 28.23: Corrija uma pessoa, e no futuro ela apreciará isso mais do que se você a tivesse elogiado.

Portanto, as suas palavras irão mostrar o que está no seu coração. Cada um examine a si mesmo e permita ser transformado diariamente pela Palavra e pelo Espírito Santo.

3. (v.38-42) “não resistais ao mau; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra”: a) A lei de Moisés sobre vingança seguia o princípio de “Olho por olho, e dente por dente” (Êx 21.24; Lv 24.20; Dt 19.21). Essas leis não eram para encorajar a vingança, mas para proibir uma penalidade maior que o crime (Beacon, p.61; Hernandes p.205); b) A lei apresentada por Jesus é mais elevada: “não se vingue, mas pague o mal com o bem”; c) Obedecer a esse mandamento de Jesus só é possível para um coração transformado pela habitação do Espírito Santo, com perdão e bondade (Mt 18.33; Lc 10.37); d) Jesus ensina por figuras de linguagem e devemos extrair o princípio da mensagem. O próprio Jesus, quando esbofeteado, não ofereceu a outra face, mas se defendeu por palavras (Jo 18.22,23); e) Os exemplos citados são injustiças comuns em nossos dias: agressões, processos jurídicos, abusos no trabalho e transações financeiras. O ensino não é um incentivo à covardia ou uma proibição a defender-se; f) Dá a quem te pedir - “O versículo 42 não nos ordena a dar a qualquer pessoa aquilo que ela deseja, pois, dessa forma, poderíamos prejudica-la. Devemos dar a ela o que mais precisa, não o que mais deseja” (Wierbe) – “Não incentivemos a ociosidade e a mendicância” (Spurgeon, p.87); g) Portanto, Jesus ensina a nunca se vingar, a ter um coração disposto a perdoar e a pagar com bondade as maldades que foram feitas contra nós.

4. (v.43-48) “Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem”: a) A ordenança de amar ao próximo está em Levíticos 19.18, entretanto a expressão “odeie o seu inimigo” não existe no AT; b) Amar a família e os amigos é fácil. Jesus eleva o mandamento para amar os inimigos; c) Provavelmente os fariseus interpretaram “próximo” como sendo apenas pessoas que nos fazem bem, inclusive, a famosa parábola do bom samaritano foi uma resposta à pergunta “quem é o meu próximo?” (Lc 10.29-37); d) Jesus ensinou que o amor deve ser de todo coração, alma, entendimento e força (Mc 12.30). A ênfase na intenção do coração continua presente em sua justiça maior; e) Assim como os filhos se parecem com os pais, o amor nos faz parecidos com nosso Pai que está sempre fazendo coisas boas para pessoas más; f) Jesus, em poucas palavras, de uma forma extraordinária, resume a felicidade, o propósito e a justiça: “Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus”; g) A verdadeira felicidade, o verdadeiro propósito e a verdadeira justiça está em ser filho de Deus, o imitando e amando como Ele.

Exemplo prático – um acidente de trânsito

Dois motoristas batem seus carros em um acidente de trânsito, um chamado José, que é cristão, e o outro chamado Antônio, que não tem religião. O conserto do veículo de Antônio ficou em R$ 6.000, e o conserto do José ficou em R$ 4.000. Como o culpado pelo acidente foi Antônio, José solicita o ressarcimento do seu próprio conserto, porém Antônio se recusa a pagar. O que Jesus faria?

Na primeira opção, José recorre à justiça própria, ameaçando Antônio e forçando-o a fazer um empréstimo em 12 parcelas para quitar sua dívida. Neste caso, a atitude de José em ameaçar Antônio foi motivada por uma combinação de orgulho, ódio, vingança e raiva. Antônio também terá os mesmos pecados no coração toda vez que pagar uma parcela do empréstimo. Qual a probabilidade de haver paz entre eles?

Na segunda opção, José recorre à justiça de terceiros, abrindo um processo jurídico contra Antônio. Após 24 meses, o juiz decide a favor de José. Neste caso, a atitude de José em processar Antônio também foi motivada por orgulho, ódio, vingança e raiva. Além disso, durante o processo, José experimenta ansiedade e avareza, pois o advogado deu esperanças de uma indenização. Antônio terá os mesmos pecados no coração. Qual a probabilidade de haver paz entre eles?

Na terceira opção, José recorre à justiça de Deus, oferecendo descontos e parcelamentos. Como Antônio insiste em não pagar, José envia uma mensagem a ele, dizendo: “Eu te perdoo os quatro mil, porque Deus me perdoou seis bilhões”. A atitude de José foi motivada por amor. Além disso, José irá se sentir em paz, livre, feliz e passará a orar a Deus em busca de ajuda para consertar seu carro. Certamente, Antônio ficará impressionado com essa atitude, reconhecendo que somente alguém com Deus no coração pode agir assim. José cumpriu a ordem do Senhor Jesus: “Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos céus” (Mt 5.16). Qual a probabilidade de haver paz entre eles?

Jesus vai além do “não vingar”, o amor o leva a fazer o bem para o mau. Jesus ensinou que devemos orar por aqueles que nos tenham feito mal. Em obediência a isso, José ora por Antônio e, enquanto dorme, tem um sonho onde Antônio, sua esposa e seus dois filhos estão em uma mesa com pratos vazios. Pela manhã, José pergunta para Antônio como está a sua vida e descobre que ele está passando por dificuldades financeiras e com pensamentos suicidas. José então ajuda a consertar o carro de Antônio, além de doar uma cesta básica. Naquela época, a capa era um item mais essencial e caro que uma túnica. O que José fez, ajudando Antônio, é dar também a capa. Após um tempo, Antônio se converte ao cristianismo, tornando-se um grande pregador do evangelho. O sofrimento era um propósito de Deus. O amor venceu.

Aplicação: a) Muitas pessoas acham que ser um cristão é fazer uma oração de confissão e continuar vivendo a mesma vida. Os verdadeiros seguidores de Jesus Cristo terão seus corações transformados pelo Espírito Santo para obedecer, renunciar e perseverar na verdade, na fé e no amor; b) Pecados como homicídio, adultério e mentira começam no coração, essa é a raiz que deve ser tratada com oração e disposição. Crie o habito de examinar suas intenções (por que?); c) Examine também as palavras que você fala, por exemplo: mentira, falar mal do próximo, reclamações e comentários indecentes; d) Suas palavras mostram o que está no seu coração. Saiba que você dará conta de cada palavra ociosa que falar; e) Nas injustiças pequenas ou grandes, defenda-se e não seja covarde, mas esteja disposto a perdoar, orar e retribuir com bondade o seu ofensor, por exemplo: agressões, processos jurídicos, abusos no trabalho e transações financeiras; f) Pergunte a si mesmo por que quer processar alguém? 1) Orgulho; 2) Dinheiro; 3) Mágoa; 4) Vantagem; 5) Amor (outros não sofram); g) Faça uma lista de “inimigos”, pessoas que você não consegue abraçar com carinho mútuo. Ore por ajuda, perdoe e reconcilia-te depressa! h) A verdadeira felicidade, o verdadeiro propósito e a verdadeira justiça está em ser filho parecido com o Pai do céu. Para experimentar isso em sua vida diária, faça uma pergunta simples: “O que Deus faria?”